quarta-feira, 26 de março de 2014

Entrevista: Business Intelligence

Na revista Você S.A. de janeiro, a reportagem "Freud explica: salário de psicólogo é o que mais subiu" me chamou a atenção - boas notícias para minha área. Quando abro a revista, dou de cara com a foto do Arthur Nagae, que foi meu calouro de graduação na USP. Resolvi entrevistá-lo para entender um pouco melhor sua área de atuação, e também entender como a profissão do psicólogo vem mudando, entrando em novos nichos.


CientíficaMente - Arthur, o que você faz atualmente?

Sou coordenador da área de business intelligence na agência Wunderman, do grupo Newcomm. Estou lá há um ano (entrei como analista e fui promovido no último mês), e neste período trabalhei com contas de linhas aéreas, telecoms, bancos, e alguns outros clientes menores.



Para esclarecer um pouco, dentro da agência Business Intelligence é a área responsável pela coleta de dados, monitoramento, análise e reporte de desempenho das diversas ações publicitárias ou de performance em websites. Portanto meu trabalho é estar presente durante o planejamento da campanha para identificar quais dados deverão ser coletados, como e quais dados serão analisados para se medir desempenho e garantir que a implementação de todas as ferramentas de coletas de dados estejam Ok antes do início da campanha. Durante a campanha eu acompanho os resultados (que podem ser obtidos quase imediatamente através das ferramentas disponíveis atualmente no marketing digital, ou com um delay de no máximo 1 ou 2 dias), sinalizo possíveis problemas ou otimizações e reporto os dados parciais internamente e ao cliente. Ao final da campanha tenho que consolidar os dados totais, fazer os cruzamentos necessários para tirar aprendizados para serem usados nas campanhas futuras, montar um relatório final para compartilhar internamente e apresentar os resultados ao cliente.

CientíficaMente - Parece ser um trabalho bem interessante. E como você foi parar nele?

Foi mais uma questão de coincidência combinada com necessidade do que um planejamento minucioso. Estava no último ano da graduação e tive alguns problemas familiares que me fizeram passar a procurar vagas no setor organizacional. Participei de diversos programas de trainee (gestão de pessoas/RH), mas acabei não passando devi
do a falta de experiência no mercado e a alta competitividade.

No final do ano, prestes a me formar, surgiu a oportunidade de participar de um processo seletivo na empresa onde um ex-aluno da Psicologia USP (até então apenas um conhecido da minha irmã, mas que viria a ser meu cunhado) trabalhava, a dp6. É uma empresa voltada à inteligência em marketing digital, com um perfil de gestão mais jovem, onde o que contava era ter um perfil analítico e bom raciocínio lógico acima da sua formação (havia biólogos, outros psicólogos, graduandos em Direito, matemáticos, físicos e até um rapaz formado em Gastronomia). Passei pelo processo, mas devido a um acordo entre a dp6 e a Wunderman para estruturar uma área de BI dentro da Wunderman, eu entrei sob contrato da segunda. Durante este período fui treinado pelo pessoal da dp6, com quem aprendi muito do necessário para lidar com as demandas deste mercado. Porém, após alguns meses o acordo não pode mais ser mantido, houve um distanciamento das partes e eu permaneci na agência.

CientíficaMente - Quais são os maiores desafios do seu trabalho? 

Acho que o maior desafio é garantir que os dados que são coletados são os mais confiáveis possíveis para evitar qualquer tipo de problema durante as
análises. Requer conhecimento técnico apurado para entender todo o processo pela qual passam as informações, acaba sendo necessário boa comunicação e agilidade para identificar e alertar possíveis problemas, além de estar sempre com um pé atrás durante as análises para fazer o double-check de que tudo o que está vendo nas milhares de linhas do Excel são dados confiáveis. Tudo isso dentro de prazos normalmente apertados.


CientíficaMente - E quais são as alegrias?

Entre os maiores prazeres está construir algo que mostra de forma eficiente o resultado de todo o trabalho que as dezenas de pessoas envolvidas no planejamento e lançamento de uma campanha tiveram ao longo de semanas de estresse. Outra coisa é poder explorar informações volumosas sobre comportamento humano, compreender padrões de interação com peças de mídia por diferentes clusters de interesse, analisar testes A/B para verificar mudanças de comportamento entre populações, explorar a fundo a usabilidade de websites, etc. Enfim, alimentar minha curiosidade sobre o comportamento humano no ambiente digital. Além disso, estar inserido em um ambiente 100% digital é algo que me agrada muito.

CientíficaMente - Durante a sua graduação, no que pensava fazer após se formar?

Eu já tinha há bastante tempo algum interesse em Marketing, inclusive escrevendo alguns trabalhos tentando aproximá-la à psicologia, porém, até o quarto ano eu tinha certeza de que teria ao menos mais um tempo seguindo carreira acadêmica, me dedicando a um mestrado e talvez, dependendo de como as coisas seguissem, tentar um doutorado em Análise do Comportamento. Cheguei a fazer duas iniciações científicas na área, editorar o periódico científico dos alunos da Psico (a Revista TransFormações), participar de congressos e afins. Mas, como disse anteriormente, a partir do quinto ano achei que não seria mais viável continuar neste caminho naquele momento e comecei a me preparar para entrar no mercado organizacional. Inicialmente pretendia atuar em algo mais próximo da gestão de comportamento organizacional, em uma consultoria ou dentro de uma empresa. Cheguei a montar um grupo de estudos sobre OBM (Organization Behavior Management), fizemos contato com profissionais da área no exterior e até apresentamos um trabalho sobre o tema em um congresso. 

Minha proximidade com o marketing e a tecnologia sempre estiveram lá, e somado ao perfil analítico que necessariamente se desenvolve ao lidar com o meio acadêmico científico, o pessoal da dp6 achou que eu tinha uma boa combinação de recursos para atuar na área que atuo hoje.



CientíficaMente -  Como pensa que será seu futuro? Se vê fazendo algo parecido, ou algo totalmente diferente?

Após apenas um ano de trabalho na área é de se esperar que vejo um espaço enorme para crescimento pessoal. Quanto ao futuro da área em si sou otimista, pois ela ainda é jovem e possui muitos caminhos por onde seguir. Me vejo fazendo
algo parecido mas com uma amplitude maior de possibilidades e uma visão de mercado mais madura. Há muitas áreas que contam com a ajuda de BI: Arquitetura/Usabilidade de websites, Social Media, Marketing de Performance, Planejamento de campanha de mídia, Otimização de mecanismos de pesquisa, entre outras muito variadas, mas todas possuem em comum o fato de ter grande demanda de informações que requerem conhecimentos técnicos, raciocínio lógico e um bocado de compreensão de comportamento humano.

Muito obrigada pelas respostas, Arthur. Gostei de conhecer um pouco mais essa área de business intelligence.